terça-feira, 27 de agosto de 2013

Bling Ring: A Gangue de Hollywood - A geração vazia de Sofia Coppola.

Em novo filme, cineasta provoca a reflexão.
Bling Ring – A Gangue de Hollywood, seu quinto longa-metragem, não traz personagens tão marcantes quanto seus longas anteriores, mas extremamente representativos de uma geração. No fim das contas, seu novo filme funciona melhor como proposta para reflexões sobre a sociedade atual do que pelas propostas cinematográficas. O que não tira seu valor, muito pelo contrário.

Trata-se de uma história real, tendo como base um artigo de Nancy Jo Sales, publicado na revista ‘Vanity Fair’. A ação começa quando o quieto Marc (o desconhecido Israel Broussard) se muda para Los Angeles. Hostilizado gratuitamente pelos outros alunos, encontra em Rebecca (Katie Chang, também desconhecida) sua única companheira no novo ambiente escolar. Mas ela tem um hobby pouco ortodoxo: gosta de entrar em casas de celebridades que moram nas luxuosas casas de Hollywood. Ela fuça, abre armários, deita na cama, age se aquela fosse sua própria vida. Marc a acompanha não por ter a mesma necessidade, mas para se sentir pertencente a um grupo, ter uma vida social, amigos, essas coisas que todo mundo gosta, sabe?

A impressão que tive ao assistir a ‘Bling Ring – A Gangue de Hollywood’ foi que Sofia quis fazer um filme tão superficial quanto seus personagens. Sua câmera parece ser fascinada pelas joias, roupas de grifes, sapatos, maços de dinheiro, casarões e a vida dos famosos, assim como seus personagens. A história é a seguinte: um grupo de jovens entediados que vivem em Los Angeles resolvem invadir as pouco monitoradas casas dos famosos para roubar – sempre se informando sobre onde eles estão nos sites que noticiam cada detalhe da vida dos famosos.

Mas, mais do que assaltar as casas, eles se sentem como se vivessem a vida dos famosos que assaltam. Curtem o ‘cômodo-balada’ de Paris Hilton – e voltam à casa dela para curtirem e explorarem mais seu closet -, admiram os vestidos de Lindsay Lohan, tiram fotos para as redes sociais e, claro, esbanjam em boates da capital do cinema norte-americano. Ao aproximar o olhar sobre esse grupo de jovens ladrões, ‘Bling Ring – A Gangue de Hollywood’ expõe o vazio de toda uma geração, que ama ostentar os frutos de seus roubos nas redes sociais e tem fascinação por celebridades. Existe uma superexposição não somente dos atores e atrizes de Hollywood, mas também dos personagens anônimos de ‘Bling Ring – A Gangue de Hollywood’.

Muito se fala da presença de Emma Watson no filme, coisas que uma série de sucesso como ‘Harry Potter’ no currículo fazem com um ator. Ela interpreta, de fato, uma das personagens mais interessantes: uma menina que não frequenta a escola e é educada pela mãe tendo como base preceitos do livro ‘O Segredo’. Não podia sair coisa boa daí. Cínica, passa a aplicar os ‘ensinamentos’ da obra em seus depoimentos à polícia e imprensa.

Em uma cena, uma das personagens conta que vai ficar ‘catando lixo o resto da vida’, punição após ter sido flagrada batendo um carro, o qual dirigia alcoolizada. Sentenciada, ela acaba se sentindo como as celebridades que admira nos tabloides. Afinal, se os famosos nos quais ela se espelha também estão sendo presos e julgados por crimes, cometê-los coloca esses personagens no mesmo patamar dos jovens que estão sempre sob os holofotes.

‘Bling Ring – A Gangue de Hollywood’ se aproxima dos outros filmes do Sofia exatamente nesse vazio de seus ‘heróis’. O tédio de Maria Antonieta não é completamente do tédio destes personagens, que, sem valores morais definidos, assaltam como se fosse algo comum. É essa a geração que cresce nas ruas de Los Angeles, em meio a celebridades tão vazias quanto os próprios jovens. Não somente em Los Angeles, mas em qualquer grande cidade, como na casa vizinha à sua. Ou mesmo na sua.

fonte: msn.com.br